domingo, 7 de julho de 2013

O Gaulês Moribundo

O Gaulês Moribundo, Museus Capitolinos, Roma (Foto: Jean-Christophe Benoist)

A estátua de mármore chamada Gaulês Moribundo, que está na Sala do Gladiador do Palazzo Nuovo de Roma, não é uma obra original. É uma cópia, feita na Roma antiga, de uma estátua grega desaparecida. A peça original, que provavelmente seria de bronze, deve ter sido esculpida por volta dos anos 230 a 220 a. C., em Pérgamo, na Ásia Menor. A sua autoria é habitualmente atribuída a Epígonas. Ler mais
Para os romanos, a estátua certamente representava um gladiador gaulês (celta da Gália) ferido de morte. Daí o seu nome corrente de Gaulês Moribundo. Mas os antigos gregos não organizavam combates de gladiadores, nem teriam da Gália senão uma vaga ideia de que seria uma terra distante e bárbara. O que a estátua por certo representa é um guerreiro gálata (celta da Ásia Menor) vencido e moribundo. Ela deve ter sido esculpida para assinalar a vitória do rei de Pérgamo sobre os gálatas, os quais ficaram a partir de então remetidos ao interior do planalto da Anatólia, na atual Turquia.

Os celtas foram um povo que viveu na Europa Central, de onde saiu em duas vagas migratórias nos sécs. VII e V a. C., conquistando e assimilando outros povos e tribos. Espalharam-se por uma grande parte da Europa, incluindo o atual território continental português. Portugal é hoje o terceiro país europeu que tem maior percentagem de topónimos celtas, a seguir à Irlanda e ao Reino Unido.

No séc. III a. C., os celtas que tinham migrado para a Península Balcânica entraram em confronto aberto com os gregos, tendo sido derrotados. Alguns dos celtas atravessaram então o Estreito do Bósforo e instalaram-se na Ásia Menor, onde lhes foi dado o nome de gálatas. Foram estes gálatas que acabaram por ser vencidos, de novo, pelas forças de Pérgamo. A estátua, portanto, deveria chamar-se Gálata Moribundo, em vez de Gaulês Moribundo.

Esta dramática estátua é um dos exemplares mais representativos da escultura helenística. A seu respeito, escreveu Sophia de Mello Breyner Andressen:
No Gaulês Moribundo aparecem dois elementos profundamente novos: a atenção dada ao sofrimento e a atenção dada a um corpo bárbaro (...) no altar de Zeus de Pérgamo, 197-159 a. C., a dor que aparece não é o sofrimento do indivíduo, mas o pathos, a grande dor universal.
Fonte: Blogue "A Matéria do Tempo", post de 24Jan2013

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