terça-feira, 24 de junho de 2008

Livro: Era tempo de morrer em África de Nogueira e Carvalho

via nonas de nonas em 23/06/08
"Era tempo de morrer em África", foi editado em 2004, pela Prefácio Editora, na sua colecção Memórias de guerra", da autoria de Nogueira e Carvalho, prefaciado por José Pinheiro da Silva e com um comentário de Silvino Silvério Marques.
É um testemunho apaixonante da experiência do combatente que viveu e combateu em Angola e Moçambique e que dá um contributo para esclarecer os motivos que originaram a guerra em Angola, desde 4 de Fevereiro de 1961 até 11 de Novembro de 1975, data da independência.
O seu autor, José Victor de Brito Nogueira e Carvalho foi Capitão Miliciano de Infantaria, Inspector da DGS em Angola, funcionário superior da Polícia de Informação Militar e do Gabinete Especial de Informações Militares do Comando-Chefe das Forças Armadas em Angola.
As suas duas comissões militares efectuadas em Angola e Moçambique, foram sempre em zonas operacionais e não na "rectaguarda do ar condicionado".

Foi um dos impulsionadores dos "Flechas" (comandos especiais africanos negros) que eram recrutados e treinados pela DGS, muitos deles oriundos das forças inimigas e que seriam «abatidos a sangue frio, e cujo único crime foi o de defenderem os interesses da Nação Portuguesa» (P. 205).
Foi um dos Comandos Especiais que participou sob as ordens do Tenente-Coronel Gilberto Santos e Castro na tentativa de assalto militar a Luanda - antes da data da proclamação da independência, 11 de Novembro de 1975 -, com as forças da FNLA e da África do Sul mas acabou vítima da traição sul-africana que, à última da hora, recuaram para a fronteira – por ordem e pela voz americana de Henry Kissinger - sem antes tirarem os dispositivos de tiro e as culatras dos canhões deixando assim abandonados à sua sorte os Comandos Especiais e a FNLA.
Diz:
«À FNLA e a nós, só restava a retirada.
A guerra e os sonhos duma terra prometida estavam perdidos.
Nada mais havia a fazer.
Dias depois com as lágrimas nos olhos, dirigi-me ao avião que de Kinshasa me traria de volta a Portugal.
Sabia que jamais iria voltar.
Lembrei-me de todos os amigos e camaradas de armas que tinham tombado.
Lembrei-me daqueles que ficavam, e que em mim tinham confiado, acreditando na esperança que lhes tinha incutido.
Era uma sensação de desconforto, como que de traição e conivência com a covardia, já que a coragem não tinha de ficar, e com eles encarar a morte que se antevia e avizinhava.
Como era possível apregoar-se a liberdade, a defesa dos oprimidos, e cantar-se a ignomínia, a falsidade e a traição.
O avião levanta voo.
Tinha-se gorado a última tentativa.» (P. 230).

Um livro a ler com muito interesse.
Pena é que o autor se fique apenas pelas 244 páginas do livro, na certeza que - graças à sua acção como Inspector da DGS em Angola, funcionário superior da Polícia de Informação Militar e do Gabinete Especial de Informações Militares do Comando-Chefe das Forças Armadas em Angola - muito ficou por dizer.
Aliás, o próprio o confirma na nota de rodapé da página 230:
"Este capítulo é apenas um resumo muito sucinto do que foi a guerra a caminho de Luanda. Descrevê-la em pormenor, com os seus altos e baixos, as esperanças e as desilusões, os actos de bravura e de heroísmo, constituiria por si só matéria para um livro."

Talvez um dia se venha a saber toda a Verdade.

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