segunda-feira, 14 de abril de 2008

Relacionamentos digitais

via InterNey.Net em 13/04/08
15 anos atrás havia uma certa complicação em dizer pra outra pessoa que você tinha algum interesse romântico ou carnal, você tinha de ter um certa dose de cara de pau, ou estar embriagado, ou melhor, contar com o intermédio de um amigo/amiga em comum que entregava um bilhetinho. Para conhecer alguém importante no mundo dos negócios a coisa não era muito diferente, saiam de cena os bilhetinhos, a cara de pau era barrada por seguranças mas a figura do amigo em comum conseguia romper essas barreiras.

Partidas de futebol, tênis, golfe, truco, bares, festas, happy hours. Ir em eventos era uma questão de sobrevivência social. O outro caminho era árduo demais, você precisava ter um talento fantástico a tal ponto que seu superior não conseguisse te esconder, mesmo assim muitas vezes ele preferia te afastar ao invés de permitir que sua luz o ofuscasse.

Mesmo pra quem não estava procurando a cara metade ou se dar bem na empresa, encontrar pessoas não era uma tarefa simples, ficar sabendo dos melhores eventos culturais relacionados a suas preferências artísticas envolvia ter os amigos certos interessados nas mesmas coisas que você, depender apenas dos jornais e revistas te dava conhecimento apenas dos principais shows e filmes, você perdia aquela banda underground, aquela mostra de cinema aquela peça amadora de teatro. Talentos novos poderiam nascer e sumir da sua cidade e você só ficar sabendo depois que eles já estivessem em turnê na Europa.

Então veio a internet e ela começou a crescer, os primeiros sites de grande sucesso eram as salas de bate-papo, BBS, IRC, portais, viviam lotados de gente querendo se conhecer e se encontrar. Falamos tanto das atuais redes sociais que quase nos esquecemos dos sites cuja finalidade era encontrar sua cara metade. Centenas de cadastros todos os dias procurando alguém para dividir os momentos tristes e felizes.

Uma das primeiras redes que participei o Friendster tem basicamente as mesmas coisas que Orkut, MySpace, Facebook, mas ainda não tinha o conceito de grupos ou comunidades. O ser humano se agrupa em comunidades desde a pré-história para caçar e se defender, até pouco tempo atrás esses grupos tinham uma limitação física clara, um grupo que não fosse capaz de se reunir com uma determinada frequência deixava de ser um grupo. Com a web o conceito de grupo não mudou, mas ficou bem mais fácil reunir os componentes do grupo.

Eu sempre me incomodo, muito, quando alguém fala de redes virtuais, relacionamentos virtuais, mundo virtual, etc. Exceto nos casos quando falamos de algum jogo como WoW ou ambiente como o Seconde Life a denominação correta é digital. Você se encontra virtualmente com alguém na rede, é virtual porque não é um encontro de fato, vocês podem estar a quilômetros de distância. Mas vocês são pessoais reais, trocando experiências reais. Os sentimentos que nascem desses encontros e o conhecimento que é produzido são reais. A diferença é que ao invés do meio físico foi utilizado o meio digital.

Mas o que me incomoda mais ainda são as pessoas que deixaram de utilizar os antigos canais de relacionamento com a chegada dos novos métodos proporcionados pela web. Nos alegramos de conquistar centenas de amigos em uma rede social. mas nunca encontramos pessoalmente nem a metade desses amigos digitais. Talvez nesse ponto muitos não estejam tão errados assim em chamá-los de amigos virtuais, não se sabe se de fato há algo real que os una, se não houvesse a simplicidade da internet será que eles se conheceriam de fato? Essa amizade seria sustentada se nos correspondêssemos uns com os outros através de cartas, que demoram dias, ao invés de e-mails, que demoram segundos?

Parece que a instantaneidade da rede tirou a profundidade dos relacionamentos, você chama outra pessoa de amigo por razões banais e quanto você não tem que encarar a pessoa novamente no dia seguinte é fácil desfazer uma amizade clicando em 'apagar'. A mesma coisa acontece no mundo dos negócios, muitos reclamam de falta de oportunidade ou de sofrer algum tipo de discriminação, quando na verdade nunca encontraram as pessoas certas e lhe estenderam a mão para dizer um 'muito prazer, admiro seu trabalho e gostaria de propor um negócio'.

Estava animado observando como as pessoas mais felizes e bem sucessidas que conheço saem constantemente, se encontram e usam a rede para expandir esse contatos e não restringi-los ao computador. E resolvi escrever esse texto para deixar algumas perguntas:

• Seus relacionamentos digitais são reais ou virtuais?
• Quantas pessoas em suas redes sociais você conhece de verdade?
• O quanto você se esforça para conhecer pessoalmente aqueles que você nunca apertou a mão?
• Quando você segue uma pessoa no twitter você está esperando uma oportunidade para encontrá-la ou é apenas uma perseguição virtual?
• Quantos telefones tem na sua agenda?
• Como os relacionamentos digitais transformaram sua vida pessoal e profissional?

Pode abusar dos comentários.

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