quarta-feira, 25 de janeiro de 2006

A DEVIDA COMÉDIA

O povo é sábio. O povo crente e temente a Deus adora santos para expiar os seus pecados e viver sem medo
Pastéis de Belém
Uma verdade: Portugal gosta de homens providenciais, homens que subiram a vida a pulso, homens de pedestal a velar pela pátria, humildes, distantes e discretos. Quando vota, o povo não se engana. O povo é quem mais ordena e nunca ordena mal. O povo é sábio. O povo crente e temente a Deus adora santos para expiar os seus pecados e viver sem medo. Uma mentira: Portugal escolheu Cavaco para Presidente da República. Mentira. Foram três milhões, nem isso. Seis milhões, mais coisa menos coisa, não votaram nele ou foram-lhe indiferentes. Temos, pois, numa das democracias ditas avançadas do Ocidente, um Primeiro-Mnistro e um Presidente da República absolutos eleitos pela vontade de uns, contra a vontade de outros e com a indiferença de muitos mais.Um adeus: Mário Soares sai da política pela esquerda baixa. Sai? Nunca se sabe. Palpita-me que o «pai» da democracia vai, como o outro, tentar andar por aí. E haverá sempre quem ache que ele faz bem. Atrevo-me a dizer que o velho não tem amigos, nunca teve. Ou então ele, casmurro, não os ouve. De uma coisa ou de outra – ou das duas – se faz um alegre funeral.Um problema: O clube dos poetas mortos, como lhe chamaram, vale um milhão de votos. Ou seja, nem é um clube nem os poetas estão todos mortos. O que é um problema para Alegre resolver. Mas também um sinal de que a política ainda vale um verso.Uma realidade: Jerónimo de Sousa vale mais do que o PCP. Um comunista de carne e osso não se compara a um partido de cera.Uma incógnita: O que é novo, cresce. Era este o slogan do Bloco de Esquerda quando se apresentou aos portugueses. A casa da esquerda tem tectos baixos, parece.Uma gafe: Joana Amaral Dias, a barbie de Soares, deixou o Bloco pendurado para se pendurar no «avô» Mário. Uma joaninha não faz a Primavera. Convém tratar desse gene canhoto.Uma fraude: Garcia Pereira vale menos do que um voto em branco. Menos de metade, diga-se. Num romance de Saramago, Garcia nem para urna dava.

Miguel Carvalho
Visão Online - Segunda, 23 Janeiro 2006

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